IAs generativas: A essência perdida na era das palavras vazias

Emoções autênticas se perdem em meio a IAs generativas. Reflexão sobre sentir, no mundo acelerado e inevitavelmente cada vez mais artificial.

arte pintada com lapis
Tempo que você vai levar pra ler: 2 minutos

Há muito tempo não escrevo este tipo de reflexão. E com o estrondoso sucesso recente das IAs generativas, sinto uma obrigação comigo mesmo, de parar e refletir sobre a essência que vem se perdendo, na era das palavras e imagens vazias de sentimentos reais.

No ápice das IAs generativas até aqui, onde palavras se tornam tokens e são geradas em frações de segundos, textos realmente novos são a analogia perfeita do alimento orgânico em um mundo de industrializados.

Este exato texto, a partir do que está escrito até aqui, já poderia ganhar parágrafos e parágrafos gerados por inteligência artificial. Mas em que momento o sentimento se perderia?

Será que ele já nasce com o sentimento perdido, dado que o mundo, na maior parte das vezes, é veloz demais para sentir alguma coisa? Ou será que ele ainda leva consigo uma tentativa de soprar alguma vida nas palavras?

O resultado final é na verdade só a metade do caminho

Compreendo os artistas, escritores, autores e aqueles que criam de uma forma geral. Se por um instante deixarmos de lado o aspecto de subsistência – hipoteticamente em um mundo onde esse aspecto já estivesse resolvido para cada indivíduo – chegamos à parte em que as palavras eram o meio e não o fim da mensagem. O resultado final da obra de arte era só metade do caminho, a ponte para as emoções sentidas ou as que o artista buscou transmitir.

E assim, IAs generativas por um lado revolucionárias, por outro inevitavelmente tem tendência de criarem castelos de cartas em toda área criativa.

Todo mundo já ouviu alguém dizer alguma vez: “Aquela pessoa é linda(o), mas não tem conteúdo algum”, consequentemente, no médio e longo prazo, tornando-a desinteressante e tediosa.

Uma obra espetacular, mas árida em sentimentos. Um livro enorme que faz, sim, um ótimo trabalho de passar o tempo, apoia seu entretenimento em uma mensagem que, quanto mais você se aproxima dela, mais o 3D vira 2D, mais os pixels aparecem, mais o sentimento desesperador do filme “O Show de Truman” toma conta.

A criatividade vai se reinventar com IAs generativas

Ainda sim, sou otimista no pensamento de que o ser humano não vai perder a fácil assim a guerra do criar e emocionar.

Pode sim, haver um desajuste momentâneo, uma curva de aprendizado, uma mudança drástica em como criávamos e como criamos hoje. Mas o autor, o artista e todos os que criam, vão adaptar-se. Onde houver possibilidade de expressão, nós como seres humanos, nos adaptaremos ao novo expressar e ao novo sentir.

Mesmo em um mundo inundado por palavras e imagens vazias, aquelas que são verdadeiramente autênticas, vão sempre brilhar mais na multidão.

Nos preparando para o novo mundo

Talvez, nesse novo mundo que estamos criando, deveríamos buscar ser como água e óleo, onde, por mais que possamos mexer, nunca haverá uma mistura homogênea. O risco é, sem perceber, nos tornarmos água e sal, onde a mistura poderia até decantar, mas seria ingenuidade de nossa parte pensar que chegará o momento em que ela vai parar de se movimentar. E em movimento, a visão será sempre turva e cada vez mais difícil de enxergar genuinamente qualquer coisa através dela.

Não queremos chegar a um tempo onde a ilusão que criamos é tão boa a ponto de envolver não só momentos específicos de nossas vidas, mas durar tempo suficiente para pessoas passarem uma vida inteira sem sentir.

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Autor: Fernando Matos

Trabalho com engenharia de software, sou entusiasta de IA e tenho participação em algumas empresas. Sou co-fundador da Blimboo.com e fundador do Leverage Valley No passado ajudei co-fundar Pixele, Go Panda, Lince, LiderProfile, Tamanduá Fit e Krabo E escrevia para o @lumberjackslife

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